quinta-feira, 28 de março de 2013

Diálogo Secreto


-       Eu quero uma cerveja.  – pediu ela, entregando o cardápio ao garçom de forma pueril.
-       Você reclamava que era amarga.
-       Descobri que eu também sou, combinamos.
-       E você também não bebia! – reclamou ele.
-       Digamos que você é o único que descobriu isso.  – selecionou uma das batatas na mesa e mastigando completou – ah, e obrigado por me ensinar a beber.

Silêncios indo e vindo. 

- Então... Por que a mensagem? – perguntou ela. Ergueu as sobrancelhas e apertou os lábios vermelho sangue.
- Alguém sabe que você tá aqui?
- Não.
- Só...lembrei das tuas palavras, de você. – disse ele, abaixando mais o tom de voz.
- uhum, entendi. E ela? Sabe que você tá aqui?
- Não faz ideia.

Ele jogava brincadeiras, piadas prontas, bobagens de menino.

-       Preciso ir.  – Encaixou os pés no sapato e tomou o último gole de uma cerveja.
-       Mas você vai assim? – perguntou ele.
-       Sim.

            Seguiram até a porta, depois de pagarem a conta em silêncio.

-       Mas antes que eu me esqueça – ela deu meia volta e ficou colada nele, abriu a bolsa e tirou um punhado de moedas – Sei que o fim do ano já passou, mas toma aqui a caixinha dela.
-       Como assim?
-       É assim que gente educada faz lá na minha rua, dá caixinha pro lixeiro todo fim do ano. A gente sempre fica feliz quando recolhem um lixo, né?

Sorriu e entrou no carro, imperiosa.

Os dentes dele rangiam raiva e vontade de agarrar, pela última vez, aquela mulher, mostrar quem manda. Mas o queixo caiu, agora era ela. 

Fonte da imagem: http://migre.me/dSmEm