Não aprendi a nadar. Meu pai só me ensinou a amarrar o cadarço,
pra eu evitar os tropeços que a vida dá.
Com pés no chão eu ando bem, mas às vezes me jogam numa maré
ou eu mesmo me jogo no mar e afogo.
E agora, pai?
O pai do meu pai atravessou o mar e eu quase não me
atravesso, mesmo tão pequena.
É tanta água, é tanta onda, me jogam pra lá e pra cá. Eu
bato os braços, seguro em qualquer coisa insignificante pra manter a respiração. Mas a água entra pelo nariz e queima viver.
Em mim afogo, um dia quem sabe rola pelo menos um nado
cachorrinho. Por enquanto eu vou lutando, quem sabe até não alcanço voo.
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