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Abri os olhos. Eu acordei com a cama me engolindo e os monstros subindo em cima de mim, engolindo minha alma. E o que restara ali era o meu corpo, imerso num monte de cobertores, suado. Um gosto amargo na boca, como aqueles remédios que a gente coloca debaixo da língua. Eram mágoas. Acordei cheia de mágoas debaixo da língua. Eu queria cuspir, vomitar, mas nem as palavras voavam da minha boca.
Eu queria que
as imagens saíssem da minha cabeça. A angústia... De repente eu sentia
um rasgo no peito que descia até a barriga. Borboletas mortas.
Nadei
nas cobertas pra sair da cama. O sol ardia e se misturava nas nuvens,
como quem risse dos cânceres que eu alimentava, como quem risse da minha
dor e da minha raiva num ato desesperado de salvação.
Bebi um café amargo pra competir com as mágoas.
Mastiguei um doce pra amenizar.
Engoli a saliva e formei um sorriso.
Meu corpo se projetava pra gritar, mas a voz não saía.
Vivi mais um dia com minhas mágoas de estimação. Muito bem alimentadas, por sinal.
E dormi mais uma noite, com elas deitadas sobre o meu peito.
Como se as palavras saíssem e tocassem o leitor de tal forma que ficasse sem palavras com eu estou...
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