A menina acordou com um breve toque em seu celular, na noite
anterior programou o aparelho para acordá-la bem cedo. Tinha se prometido não
ficar até tarde como um pão adormecido e murcho na cama em mais um domingo de
raios energéticos ofuscantes vindos do Sol na janela. Mas assim que o aparelho
começou a aumentar o toque ela deslizou a mão delicadamente até ele e o colocou
no modo soneca. Só mais um pouquinho,
prometia a si mesma. Juntou as
pernas próximas à barriga e puxou o lençol fino, que agora cobria apenas suas
coxas. Fazia calor, mas isso não a animava a sair do local quente. Sua mente
cantava alguma música chiclete do momento, ela apertava os olhos como se isso
fosse expulsá-la da cabeça. Irritada,
levantou bruscamente da cama, o lençol caiu tão leve como pena no chão, a alça
da camisola dela caia e isso a irritava mais ainda. No seu reflexo na janela
viu que suas bochechas estavam muito vermelhas, tocou de forma brusca o rosto,
estava realmente muito quente o clima. Foi até o banheiro cumprir o ritual de
todas as manhãs, ao lavar o rosto sentia a água fresca melhorar seu calor,
enrolou o cabelo e fez um coque com uma caneta próxima ao closet. Tudo decorria como de costume. Ela querendo
fugir da realidade, querendo dormir até o fim do mundo, enquanto os outros
buscavam os braços dela e ela queria um colo sem precisar pedir. “Não precisa dizer nada, eu já sei. Deita
aqui, vou cuidar do teu sono.”, ela desejava que lhe dissessem, numa manhã
dessas, num dia desses. Mas o dia
parecia trazer algo de diferente, pela primeira vez ela forçava sua mente a
lembrar de alguém que um dia se apaixonou e se doeu por ele. Forçava buscando
energias como se tentasse empurrar um caminhão. Queria se doer, preferia se
doer. Só não podia pensar nesse novo ser que aparecia em seu caminho. A dor que
oprimia o coração naqueles tempos ela já conhecia, o alguém já havia pisado em
sua lama. Tudo bem pensar nele, querer trazer ele de volta. Mas não podia
deixar que o novo, tão limpo, quase cheirando a rosas se banhasse na lama podre
fazendo tudo feder. Fazendo tudo apodrecer. Mas o alguém escapulia de seus pensamentos, ela o caçava como se tentasse pegar uma estrela no céu. O novo estava estendido facilmente na rede de seus pensamentos. Enquanto pensava nisso, no alguém,
no ser, na sujeira, no coração, distraiu-se e um breve corte a
faca, que fatiava um pedaço de queijo, desenhou em sua delicada mão, uma gota de sangue escorria. Não podia deixar sangrar,
não podia...De novo, não... Ela pôde sentir o cheiro das coisas começando a apodrecer.
Se fosse feito pra mim, não me serviria como uma luva, como este texto serviu. Perfeito!
ResponderExcluirQueria comentar algo aqui, mas não sei se posso.
ResponderExcluirQueria muito dizer o que sonhei essa noite, mas iria te comprometer.
Queria ter coragem de fazer exatamento o contrário que a personagem desse texto fez pra poder, quem sabe, te dar um mínimo exemplo...mas não sei se é o que você deseja! :/
Ótimo texto, Má! Gostei!
ResponderExcluirMas só uma pequena crítica: por mais que eu goste do estilo "Maria Paula Fraga" de escrever, acho que você deveria tomar um pouco mais de cuidado ao escrever um texto tão denso, metafórico e cheio de belos simbolismos num único parágrafo. Isso pode tornar o texto cansativo. Eu mesma me perdi algumas vezes no meio da leitura. Note que os textos dela (ótimos também, por sinal; gosto muito) são curtos, diretos, literais. Os seus são mais poéticos, isso requer uma leitura mais atenta pra pegar a essência, entende?
Pode discordar de mim e me chamar de antiquada, haha. Mas é só uma opinião.
Enfim, lindíssimo como sempre (;