terça-feira, 15 de novembro de 2011

Perdendo a direção


Peguei o carro pra dar uma volta, sem saber pra onde ia ou se seguia a direção certa. Apenas, peguei. Liguei o rádio na estação preferida e liguei o motor. No meio do caminho ouvi o som de uma música familiar, mas há tempos não ouvia e aquela estação não costumava tocar aquele tipo de som, me distrai de novo. Até que reconheci, ouvi aquele trecho que me fez parar o carro bruscamente numa rua qualquer.
 “Um minuto para o fim do mundo, toda sua vida em 60 segundos.”

 Só aquele trecho, o resto da letra não importava, era aquele que eu ouvi nitidamente. E um simples trecho me tocou, puxou meu coração pra fora do peito expondo ele no museu da vida, sugou a alma pra fora do corpo e os pensamentos jogou pro alto, pude senti-los bater no teto do carro e voar pela fresta da janela, sem rumo, bagunçados, soltos e confusos. No meio disso minha única reação foi desligar o som e apoiar a cabeça sobre o volante. Uni tudo que o trecho daquela melodia fez flutuar e lembrei. Lembrei daquele que não tava ali pra me segurar e cuidar de mim quando eu resolvi me jogar , lembrei daquela que eu achei que me daria colo quando eu deixasse de ser tão durona e lembrei daqueles outros que não estavam ali pra me fazerem rir. Toda minha vida em 60 segundos. No meio disso, escutei um leve barulhinho, era uma florzinha que caía sobre o pará-brisa, reparei que estava encostada debaixo de uma árvore que caíam flores amarelas sem parar. O asfalto e a calçada estavam cobertos com elas. Elas que tinham um amarelo tão vivo, tão pequeninas e delicadas eram atropeladas pelos carros que passavam e eram pisoteadas pelas pessoas que caminhavam pela calçada. Observei por um tempo a derrota delas que floresceram pra cair e serem esmagadas. Me identifiquei com as pequeninas frágeis flores. Uma menina que passava pegou uma delas, pelo menos uma delas vai ter mais uma chance, pensei. Voltei a cabeça pro volante, um choro varria as sujeiras do que restava a minha alma. Ouvi a voz da minha mãe ecoar “nunca imaginei te ver tão frágil assim...” e, na minha mente eu respondia “nem eu, mãe. Nem eu.” Voltei a lembrar da vida, lembrei daqueles, daquelas e daqueles outros. Lembrei das quedas, pisoteios, atropelamentos e eu caída nessa estrada sem fim sem nenhuma menina pra vir me salvar de ser esmagada mais uma vez. 


 Até que uma batida no vidro me assustou, era um homem que tentava chamar minha atenção:



- Tudo bem, moça? Tá precisando de alguma coisa?

- Huum...Tem uma poção de Cianureto, aí ? Estou com sede.

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fonte da imagem: http://weheartit.com/
Música: Um Minuto Para o Fim do Mundo - Composição: Wally e Rodrigo Koala


Nota da autora: Não é um texto autobiográfico, só pra deixar claro.


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