sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Cartas definidas; cartas no coração.


- Ele me perguntou: Você perdeu bem a fé nas pessoas, não é? -


Nas últimas semanas tudo havia se desmoronado em mim, a cada dia que passava o morro tão frágil onde meu castelo foi construído declinava rumo ao desmoronamento causado por enxurradas tempestivas, cobertas com nuvens de raios barulhentos, daqueles que nos assustam e ensurdece, meu terreno cedia. O monte das minhas cartas estava começando a despedaçar. Os meus jogadores de belas energias que eu julgava fiéis me abandonaram, os adversários com a magia negra se tornavam tão angelicais quanto eles naquele momento. A minha dor física foi se firmando em mim com todas suas formas e facetas, ela se mantinha forte, me cansando e me fazendo voltar a existir , por conta da dor sumi da vida, enquanto a fé e crença em todos iam se esvaindo na minha alma.

Eu não reconhecia muitos daqueles que um dia trouxe pra jogar comigo, mostrar meu jeito de jogar, me ajudar no recorte das cartas, brincar comigo, correr ao meu lado. Eles se mantinham no canto deles, parados, sem se quer um dedo me esticar.  Eu não pedia muito, nunca pedi, mas acho que esperei demais de todos. Está aí o erro, esperar demais das pessoas, pessoas que não tem vontade capacidade pra nos dar sustentação quando tudo começa a cair, quando o céu desaba, quando o jogo trava. Pessoas essas que eu acolhi tantas vezes no meu colo, mesmo quando ele já não aguentava tanto peso, coloquei o peso da cabeça deles nos meus ombros, mesmo quando minha cruz pesava junto, magicalizava palavras pra eles, mesmo quando minha boca queria se manter no silêncio dos meus problemas. Tudo isso porque eu me importava (e sei que ainda vou continuar me importando, sempre com meu coração patético), sempre, demais. Com todos. Por amor, por carinho. E era eu que precisava disso agora, quando percebi que também era frágil e a máscara de durona não conseguia mais se fixar em mim, precisava um pouco da retribuição e não tive. E cobrar por isso não era uma opção, tinha que vir do coração. Perdi a fé nesse orgão humano que pulsa.

E ainda vi alguns jogadores trapaceando, marcando cartas, escondendo jogos, querendo mudar destinos por de trás do pano da mesa, roubando as minhas energias intuitivas pra embaralhar o Tarô da minha vida. Roubaram, rasgaram cartas quando achei que eles estariam no meu jogo por muitos anos. Isso era o que mais machucava as lâminas das minhas cartas.

Não reconheço tanto mais os jogadores, nem os adversários. Me restou a confiança e a fé em Deus e em algumas pessoas que jogam fielmente com o destino ao meu lado. Não tive escolha e a única opção foi fazer aquela coisa de passar a peneira pra ver o que guardar na prateleira, sabe? E, dessa vez, a peneiragem foi feita de forma bem firme. Os da prateleira terão a Maria Imperatriz, a Maria formada por todas as boas rainhas do Tarô, junto com as melhores cartas que eu puder oferecer. Os outros só vão ter a Maria sem grandes cartas para lhes apresentar. É essa mudança que o baralho estava precisando pra não sofrer grandes amassos, decepções.

Outro dia, quem sabe, eu embaralhe tudo de novo e traga novas cartas. O Tarô está bem melhor assim, e sei que sempre vou ter aquelas pessoas que são meu baralho inteiro, os guias que me dão energia pra movimentar cada carta, e com eles já vale a pena fazer parte do jogo.



 fonte da imagem: http://weheartit.com/

(...só um desabafo...) 

"Aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam." -
William Shakespeare

3 comentários:

  1. Sei que o que estou prestes a dizer é absurdamente desmotivador e clichê, mas entenda: só permanece na nossa vida quem faz questão de permanecer; e tais pessoas sempre serão as únicas que se importam!

    Imagino que como se não bastasse a dor física, a última coisa que você precisava nesse momento era se decepcionar com as cartas que você um dia julgou verdadeiras. Mas se isso não acontecesse, suas energias seriam cada vez mais sugadas, seus pensamentos seriam canalizados para os problemas e, quem sabe, você ainda não teria parado pra pensar quem deve manter-se ao seu lado, quem deve ser digno das suas preocupações.

    E tem mais uma coisa: não diga mais que você não é forte. Todos sabemos que você é. A fraqueza não permitiria tantas superações, não permitiria que você se renovasse e renovasse o meio em que vive de forma tão equilibrada e sensata. E, principalmente, se você não fosse guerreira, eu certamente não sentiria aquela sensação boa de ter uma pessoa tão boa pra admirar!

    Não sei se continuo ou se continuarei por muito tempo nesse seu novo jogo, mas já sou grata por um dia fazer parte dele.

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  2. Faço de todas as palavras da Raíssa, as minhas. Só com uma única exceção: tem gente (raro tipo de gente) que ainda longe, te gosta e te quer bem, independente de qualquer tipo de distância. Sabe aquelas historinhas bestas de amigos que passam meses sem se ver e se falar, e quando se reencontram, é como se nunca tivessem se separado? Mais ou menos assim. Posso falar por mim, porque eu conheço esse tipo de gente.

    Mas esse tipo de laço requer muito tempo de confiança. E de qualquer forma, entendo também que "distância" (geográfica ou qualquer outra) é diferente de desinteresse, desimportância. E nesse sentido, eu te entendo perfeitamente. As pessoas me eram tão superficiais que perdi o encanto por elas. Por muito tempo eu desencantei de gente, do ser humano. Mas aos pouquinhos, eu fui me surpreendendo. E só pra registrar, você foi uma das cartas mais legais que eu tirei nesses últimos 12 meses.

    E assim, como amiga ou mesmo como apenas uma mera colega de faculdade, você tem a minha preocupação, o meu colo, meu ombro e a minha admiração. Sempre.

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  3. "Você perdeu bem a fé nas pessoas, não é?"
    Sabe que eu venho me fazendo essa pergunta constantemente, tem certas coisas que acontecem no jogo que nos decepcionam, e que juramos nunca mais jogar, juramos nunca mais acreditar.Ás vezes quando algumas cartas são retiradas do baralho temos a impressão que não dá mais pra jogar, mas depois de um tempo descobrimos que novas cartas chegam e que até com poucas cartas nós podemos fazer um novo jogo.
    Partilho das mesmas palavras que a Raíssa e a Tami... e muito mais, eu te adoro Máh, eu te adimiro de longe, sem fazer muito alarde, mais eu sempre estou aqui, quando você quiser, precisar... ou quando quiser alguém pra te ajudar a continuar a seguir...
    P.S: Sonhei com você.

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