terça-feira, 5 de julho de 2011

Ele sorria

 Beatriz havia acabado de se mudar de Minas Gerais pra São Paulo, teve apenas duas semanas para se adaptar antes de começar em seu novo emprego.
 Estava admirada com a cidade que era tão agitada, diferente da pequena cidade do interior de Minas que vivia, mas ao mesmo tempo era tão solitária. Ela estava acostumada com as pessoas se cumprimentado pela rua, desejando “bom dia”, sentava nos bancos do parque e as pessoas puxavam conversa... Agora, nada disso acontecia. Perguntava-se se o problema era com ela, será que havia algo que as pessoas daqui sentiam dificuldade em se aproximar dela? Talvez aquele sotaque meio mineiro, meio interiorano? Mas, não podia ser isso, as pessoas mal falavam com ela pra perceber essa característica.

 Enfim, resolveu tirar isso da cabeça. Para quê preocupar-se se, ela com toda experiência de vida, que com seu 26 anos já era tão vasta, sabia que uma hora tudo ia seguir sua direção da melhor maneira possível.

 Seguiu então, naquela segunda-feira de abril . O vento batia devagar em seu rosto, gelado, mas fazia um sol quente, como seu coração que batia mais forte a cada passo que dava a caminho de mais uma etapa a ser passada em sua vida.

 Quase perto da entrada do prédio onde seria seu mais novo “habitat trabalístico”, como ela gostava de chamar, em meio aquela multidão, algo lhe chamou a atenção, um sorriso. Olhou fixamente para o dono daquele sorriso, não era o sorriso mais bonito que já tinha visto, mas parecia ser o mais sincero e puro. Ele vestia roupas simples, porém boas. Beirava os cinquenta anos pela sua aparência. Mantinha o olhar firme em uma direção, Beatriz guiou seus olhos tentando encontrar para o quê o homem sorria. Tentativa em vão, não havia nada para o que sorrir ali, ele olhava em direção a único arbusto que havia naquela rua. Porque alguém sorriria para um arbusto? 

 Olhou para o relógio, viu que estava atrasada, saiu correndo em direção ao prédio se esquecendo do homem que ali permaneceu.

 As horas passaram, por enquanto ocorria tudo bem no seu primeiro dia no trabalho.
O sol começou a bater mais forte na janela que ficava próxima a sua mesa, aquela luz a incomodava, resolveu se levantar para fechar um pouco as persianas. No momento em que se posicionou para puxar a cordinha, olhou para rua, e ali o viu novamente sorrindo. O telefone tocou e como se estivesse em transe olhando para aquele homem, deu quase um pulo voltando à realidade.
 Era sua mãe, queria saber como estava indo tudo na cidade que Beatriz estava se adaptando. "Não muito bem." pensou, mas ela sabia que as coisas iam se encaixar.

 Os dias foram se seguindo, e todo dia aquele homem permanecia ali sorrindo. Beatriz, não sabia muito bem que horas ele ia embora, mas sempre que ela estava indo para casa ele não estava mais ali. Era como se ele fosse uma miragem, algo que só ela via. As pessoas passavam e não ficavam intrigados, como ela, com aquele homem. Será que elas já estavam acostumadas com ele?

 Em um dos seus almoços, ela resolveu perguntar a uma colega de trabalho sobre aquele homem, porém foi inútil, a única coisa que ela disse foi que nunca havia reparado nele e perguntar se Beatriz estava interessada nele, lançando lhe um olhar sugestivo.
 “Será que as pessoas não podem se interessar por alguém sem ter segundas intenções nessa cidade?”, se perguntou Beatriz, indignada.

 Um mês se passou, e tudo continuou igual.

  No primeiro sábado de Maio, resolveu ir passear pelo parque que ficava próximo ao seu “habitat trabalístico”. Na volta, não resistiu, foi mais forte do que ela. Sentou-se ao lado do homem, ele olhou para ela, lhe cumprimentou , sorriu e voltou seu olhar para a mesma direção de sempre. Ela perguntou seu nome, descobriu que ele se chamava Antônio.
Ele, perguntou o dela.
- Beatriz, significa: Aquela que faz os outros felizes.
Lembrou ele. Sorriram.
Enfim a pergunta que não saia da cabeça de Beatriz:
 - Para o que o senhor sorri?
 - Eu sorrio para muita coisa, muita gente e você?
- (risos) Eu sei, mas sempre te vejo aqui sorrindo fixamente para aquele arbusto, ou pelo menos eu acho que é pra aquele arbusto...
- Venha cá!
Ele pegou na mão dela, juntou ela mais ao seu lado e apontou.
 - Você está vendo?
Perguntou ele.
Ela olhou para o lugar indicado, voltou seus olhos para Antônio e disse:
 - Agora eu estou.
 Afirmou ela com um sorriso puro e sincero olhando fixamente nos olhos de Antônio.

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