quinta-feira, 7 de julho de 2011

O Momento - Continuação

 Quando ela o viu pela primeira, depois daquele dia que lhe marcou, estava preparada. Ela já tinha feitos meditações, rezas e talvez até bruxarias, tudo que ela pudesse para chegar e ele pensar que ela estava maravilhosamente bem sem a sua companhia.

 Antes de ele chegar, ela colocou pra tocar em seu iPod a música que mais a animava. Seus amigos foram chegando, se mostrava a pessoa mais feliz do mundo. Aquele sorriso nunca foi tão bem interpretado.

 Ele chegou. O coração dela se acelerava a cada passo.
 “Porque ele tem que chegar com esse sorriso que faz com que eu me sinta ainda tão proprietária de seu coração?”. Pensou ela, ao vê-lo.
 Veio em sua direção, cumprimentou ela e deu um beijo em seu rosto. Ela desviou o olhar de seus olhos, seria difícil olhar para eles quando ela estava mentindo que estava tudo bem.
 Ele conversava com todos que ali estavam. Menos com ela. Ela fingiu que não se importava, foi assim que ela aprendeu a lidar com seus sentimentos, era mais fácil.
E esse era só o primeiro dia do convívio diário que eles teriam daqui pra frente, afinal estudavam juntos, ela teria que se acostumar.
 
 Eles se falavam às vezes, mas parecia que a conversa nunca fluía entre eles como deveria.
Nos dias que eles não eram obrigados a se ver, parecia que ele fazia de propósito, a chamava para conversar no MSN. Porque ela não o bloqueava? Simplesmente sua mente e seu coração não deixavam, ainda tinha esperanças de ele chamá-la por lá, dizer que se arrependia por tudo e que a amava.
 “Parece que você não quer que eu te esqueça, porque faz comigo?”. Pensava.

 As coisas pareciam melhorar aos poucos. Ela se convencia de que ele que tinha perdido em não estar com ela, mas logo seu lado inseguro gritava: “Não, quem perdeu com tudo isso foi você. Só você.”

 Outros rapazes se interessavam por ela, mas sempre quando tentava ter uma relação com algum deles não conseguia. Ela olhava para eles e buscava as qualidades, o sorriso, as brincadeiras, o jeito meigo e educado dele, então desistia.
 Enfim, depois de um mês se sentia realmente recuperada. Um ciúme forte batia ao vê-lo conversar com alguma garota diferente, mas tudo bem.

 Em uma sexta-feira de manhã, acordou e cumpriu sua rotina. Só que aquele dia não acabaria bem como ela esperava. Chegou em casa, jogou sua bolsa no sofá, foi até a cozinha, abriu a geladeira, não encontrou nada que a interessava lá dentro, então foi para o quarto. Chegando lá, tirou os sapatos e começou a se arrumar para se encontrar com seus amigos. Cada movimento que ela dava, cada troca de roupa parecia ocorrer lentamente, era como se algo estivesse tentando fazer com que aquele momento fosse cada vez mais adiado. Sentiu que não deveria ir, mas suas amigas insistiram, ela odiava dizer algo e não cumprir... Disse que ia, agora ela teria que ir.

 Chegou linda, usou sua melhor roupa, sua melhor maquiagem e seu melhor sorriso. Cumprimentou todos seus amigos. Era sempre ótimo estar com eles, era um dos raros momentos que se sentia realmente feliz. Mas quando ele chegou de mãos dadas com outra, e ainda ouviu ele sussurrar amores ao pé do ouvido dela, a noite havia acabado para ela.
 Cumprimentou ele, como se nada a tivesse abalado, pediu licença a todos puxou a mão da amiga que sempre ouvia seus problemas com uma enorme paciência. Guiou sua amiga junto a ela até banheiro, a abraçou, segurou o choro, segurou até sua garganta doer e ela achar que não conseguiria suportar, mas suportou. Seu coração ficou pequeno de repente, seu estômago embrulhou e tudo isso porque ela viu ele com outra pessoa.
“Será que eu ainda o amo?”. Pensou ela ainda abraçada a sua amiga.
 Era óbvio que sim, mas ela odiava a possibilidade de admitir isso.

 Sua amiga a ouviu atentamente, no final deu apenas um conselho para ela:
- Se afaste de tudo que te prende a ele.
- Mas e a faculdade, e tudo que eu batalhei pra conseguir, essas coisas que eu estou conquistando?
Questionou ela.
- Aí dentro de você tem outros sonhos tão importantes quanto esses que você está conquistando. Conheço você há anos, tem sonhos que você guardou na sua alma por insegurança. Não acha que está na hora de resgatá-los?

 Bateram na porta do banheiro. Ela se recompôs rapidamente. Elas abriram a porta. Era um de seus amigos querendo saber se estava tudo bem, ela confirmou fazendo sinal com a cabeça.
 Voltou à mesa onde estavam todos sentados, deu uma desculpa qualquer e foi para casa.

Aquele conselho ecôo em sua mente durante todo o resto da noite, se revirava na cama, seu olhos não conseguiam se fechar. O sol já nascia quando finalmente eles cederam ao cansaço e ela conseguiu dormir.
 
O resto de seu fim de semana foi torturante, só conseguia pensar em tudo que ocorrera nesses últimos meses.
 Girava, girava e girava palavras ditas por ele, respostas diretas dadas por ela, conselhos que foram absorvidos, mas logo descartados pelo seu coração na esperança de ele voltar.

 A segunda-feira daquela nova semana amanheceu com uma ventania que ela nunca havia presenciado. Mas isso era só um detalhe, ela estava mesmo era concentrada na notícia que daria aos seus amigos.
 Chegou ao lugar marcado com eles, todos estavam curiosos para saber qual era a noticia que ela tinha pra dar com tanta urgência.
Disse de forma direta, sem rodeios, achou melhor assim:
- Vou para a França.
Foi bombardeada de questionamentos.
- Mas, como assim?
- Quando você decidiu isso?
- Por quê?
- E a faculdade?
- Com que dinheiro?
- Com quem?
- Quando?
Todos questionavam ao mesmo tempo, ela não sabia qual responder primeiro. Gritou:
- CALMA! Posso falar?!
Todos assentiram com a cabeça.
 - Eu vou trancar a faculdade. Resolvi isso ontem, vou sozinha e não quero companhia. Por mais que eu ame vocês não se ofereçam para ir comigo, primeiro motivo: porque vocês já têm suas vidas aqui bem estabelecidas para me seguir em uma aventura que eu mesma não sei se dará certo, segundo: Preciso desse tempo pra tentar colocar minha cabeça em ordem, terceiro: vou seguir os sonhos que havia guardado na minha alma há anos (Piscou para sua amiga) . E eu não sei exatamente quando, estou marcando ainda, mas até domingo já estarei lá.
Todos ouviram atentamente.
- Então temos que preparar uma despedida!
 Manifestou-se, animado, um dos seus amigos.
- NÃO! (risos)
Gritou ela de forma divertida.
- Por quê?
Disse ele perdendo o ânimo.
- Não quero despedidas, quero só o abraço de cada um agora!
Respondeu ela com um dos seus sorrisos mais sinceros.
 Todos obedeceram. Um por um a abraçou. Depois ficaram ali por horas lembrando das histórias divertidas que vivenciaram juntos.

 “Talvez toda aquela ventania de ontem fosse uma força maior tentando soprar para longe aquela dor no coração, que antes sempre foi tão forte.”. Pensou, logo ao acordar naquela terça-feira com um lindo sol brilhando como nunca em sua janela.
Estava tudo, finalmente, pronto para a viagem. Partiu em direção ao aeroporto.
Já tinha tudo em mente, investiria em um curso de artes plásticas pelo qual sempre sonho.
O ano se seguiu, fazia tempo que ela não se sentia tão realizada.
Tudo estava indo melhor do que ela imaginava, iria expor seu trabalho na melhor galeria de arte da França.
O dia era hoje, estava tão ansiosa, nunca imaginou que sua sorte fosse virar tão rápido como aconteceu. Há um ano parecia que tudo só ia contra ela, agora tudo seguia em um fluxo tão maravilhoso que era difícil acreditar em tudo que estava acontecendo.
Era ótimo ver que todos estavam realmente gostando do seu trabalho quando a exposição começou.

Mas algo inesperado aconteceu, ele estava lá, em meio a tanta gente ela o reconheceu. Tudo bem que só se passou um ano, mas ela tinha esperança de que a próxima vez que o vira não o reconheceria. Quando ela olhou nos olhos dele, não pôde conter alegria.

 Aí, vocês se perguntam: Ficou alegre porque o reencontrou?
E eu respondo a vocês: Não. A felicidade dela foi em ver que mais nem um milímetro do seu corpo arrepiava ao vê-lo, que o seu coração não batia forte e nem suas pernas ficavam bambas. Ela estava bem sem ele, ela não precisava dele para ser feliz.

Um novo amor seria bom? Talvez. Mas não agora, ela estava tão bem!
Ela se aproximou mais dele, e o abraçou com toda sua força. Mas diferente de quando o abraçava antes, foi um abraço de amigo.
“Senti sua falta, meu amigo.” Disse ela baixinho.

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